Ilha das cobras

março 08, 2020

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fonte: notíciasominuto

Uma semana mais tarde do manifesto de 22 de novembro, em 4 de dezembro, quando quatro marinheiros foram presos, os fuzileiros navais da ilha das Cobras se sublevaram, mas foram bombardeados durante todo o dia, mesmo tendo se rendido. Havia seiscentos revoltosos dos quais pouco mais de cem sobreviveram e foram detidos na fortaleza de São José, na mesma ilha. Entre eles, 18 foram recolhidos numa cela escavada na rocha viva. No dia seguinte, havia apenas dois vivos, João Cândido e o soldado conhecido como Pau de Lira. Outros marinheiros foram levados à força para seringais na Amazônia, e parte foi fuzilada no caminho. 

Em seu relato ao jornalista Edmar Morel, no livro A Revolta da Chibata, João Cândido descreveu os momentos de terror que viveu na noite de Natal. “A impressão era de que estávamos sendo cozinhados dentro de um caldeirão. Alguns, corroídos pela sede, bebiam a própria urina. Fazíamos as nossas necessidades num barril que, de tão cheio de detritos, rolou e inundou um canto da prisão. A pretexto de desinfetar o cubículo, jogaram água com bastante cal... o líquido, no fundo da masmorra, se evaporou, ficando a cal. A princípio, ficamos quietos para não provocar poeira. Pensamos resistir os seis dias de solitária com pão e água. Mas o calor, ao cair das 10 horas, era sufocante. Gritamos. As nossas súplicas foram abafadas pelo rufar dos tambores. Tentamos arrebentar a grade... Nuvens de cal se desprendiam do chão e invadiam os nossos pulmões, sufocando-nos. A escuridão, tremenda. A única luz era um candeeiro a querosene. Os gemidos foram diminuindo, até que caiu o silêncio dentro daquele inferno”.




Os oficiais de plantão na noite do massacre disseram ter ouvido barulhos estranhos vindos da solitária, mas nada podiam fazer. A chave da cela estava em poder do comandante Marques da Rocha, que pernoitava no Clube Naval, no Centro do Rio de Janeiro, no momento do desespero dos marinheiros. Quando a solitária foi aberta, no dia 27 de dezembro, segundo João Cândido, os corpos beiravam a podridão. Os cadáveres foram retirados, a cela foi lavada, desinfetada e os sobreviventes, João Cândido e o soldado naval João Avelino Lira, jogados novamente na prisão. A causa da morte dos dezesseis, segundo o laudo oficial, foi por “insolação”.

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