A REALIDADE DITATORIAL

novembro 23, 2020


Fonte: DW

O regime militar brasileiro, instaurado em 1 de abril de 1964, teve duração de 21 anos, 16 Atos Institucionais e 5 presidentes militares. Esses anos foram marcados por fortes períodos de opressão, tortura e censura. Diversas pessoas foram brutalmente mortas, segundo a Convenção Nacional da Verdade, houveram 434 mortes e desaparecidos políticos.


Hoje, após 35 anos do fim da ditadura militar, o tema ainda é controverso e pouco discutido na sociedade, principalmente entre os jovens. O regime militar é discutido de forma breve e vaga nas escolas e vestibulares brasileiros, sem dar ênfase à todos os nomes e aos principais acontecimentos. Os livros didáticos apresentam o assunto de forma superficial, fazendo com que os jovens estudem apenas aos tópicos que mais caem nos vestibulares. Imaginar uma futura geração de jovens brasileiros que não conhece profundamente a história de seu país é preocupante.


Buscando a verdade sobre os crimes cometidos pelo governo ditatorial foi criado a Comissão Nacional da Verdade (CNV) responsável em denunciar os crimes que violam os direitos humanos executados durante um regime autoritário. Essa comissão ajudou na investigação de corpos desaparecidos e de indivíduos mortos em que os seus familiares não sabiam a localização dos corpos ou o que de fato ocorreu com os seus parentes que desapareceram durante o período ditatorial.


Mesmo após a CNV, diversas são os mortos políticos, que não possuem suas histórias amplamente conhecidas no país. Um exemplo, é Helenira Rezende, depois de ter sido presa algumas vezes, Helenira parte para o Araguaia, em 1972, ao ser atacada por 2 soldados, conseguiu matar 1 e ferir o outro, após isso foi torturada até à morte.


Luiza Garlippe, conhecida como Tuca, uma enfermeira, famosa por fazer vários partos, partiu para Araguaia em busca de trabalhar para seu partido, e lá foi morta, até hoje não sabe-se a causa da morte, o exército apenas pronunciou-se dizendo que os corpos foram queimados. A família até hoje não sabe o paradeiro de seu corpo.


Dina Elsa, estudante de geografia, teve um fim parecido com o de Luiza. Juntamente com seu marido, partiu para Araguaia. De lá, escreveu algumas cartas para sua família, uma delas dizia:  “a dor da luta é de todos e sem ela não é possível o sorriso final da vitória”. Dina Elsa cuspiu na cara de um soldado, e o amigo dele atirou brutalmente nela, levando-a à óbito. 


Outro exemplo, investigado pela CNV, é a morte de padre Henrique que, na igreja, trabalhou orientando jovens. Ele era transparente quanto à sua oposição ao regime militar. O padre organizou diversos tipos de manifestações políticas. Ele foi fortemente perseguido até a morte, seu corpo foi encontrado com sinais de tortura e tiros na cabeça.


Fonte: Diário da Manhã


Carlos Marighella, inimigo número um dos militares, um dos maiores opositores ao governo militar, foi uma das figuras brasileiras mais importantes, no século XX. Em 1964, quando estava em um cinema, enquanto estava em um cinema, Marighella foi baleado e em seguida preso, pelo Departamento de Ordem Política e Social. Em 1965, após ser liberto, decide lutar contra o regime militar deixou. Em 1968, decidiu fundar a Ação Libertadora Nacional, uma resistência armada à ditadura. Os maiores objetivos da ALN era lutar contra o governo militar e instaurar, no Brasil, um governo popular revolucionário. Até que no ano de 1968, os militares intensificaram as buscas por Carlos Marighella, que foi morto com tiros, em 4 de novembro de 1969.


A lei da Anistia é uma ação jurídica que permite o perdão aos crimes políticos realizados em um determinado período. No Brasil, a aplicação dessa lei causou indignação aos opositores, uma vez que restringia a aplicação legislativa aos considerados “terroristas” e proporcionou aos militares a segurança de nunca serem punidos. O governo alegava que o perdão não se aplicava àqueles que cometeram crimes contra a humanidade, contraditoriamente era o mesmo que exercia atos de violação aos direitos humanos.


Uma luta congressista entre o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) teve abertura com o intuito de discutir a inclusão ampla, geral e sem restrição de todos os perseguidos políticos. A vitória foi da ARENA que representava o governo ditatorial com o apoio da maioria dos parlamentares do MDB, pois só o que restava a oposição era a aceitação da anistia projetada pelo governo do que não ocorrer anistia. Segundo o historiador Carlos Fico a luta no congresso pela exclusão dos "terroristas" não passou de uma interdição para encobrir o que se almejava: a autoanistia do governo. Pois a audiência visava a inclusão dos presos políticos na anistia, o que deixou em segundo lugar o perdão  aos agentes governamentais, assim conseguiu a aprovação.

Fonte: reprodução




Mesmo após 35 anos do fim da ditadura militar, o Brasil ainda sofre com as cicatrizes dos abusos e opressões cometidos no passado. Em uma realidade onde a liberdade política era nula, diversas pessoas foram mortas por se oporem ao regime. Qualquer tipo de resistência era encarada com tortura, perseguição e até mesmo a morte, como aconteceu com as pessoas citadas nesse texto. Até hoje, diversos parentes sofrem por não saberem nem as causas, muito menos o paradeiro dos corpos de seus entes queridos que foram covardemente mortos durante o governo militar. A lei da Anistia que, inicialmente, era para conceder perdão aos perseguidos e presos políticos, acabou sendo utilizada para que os militares nunca precisassem responder pelas mortes e torturas que foram responsáveis. Apesar da existência da CNV, ainda existem muitos casos, de pessoas simples e menos conhecidas, que nunca foram ouvidos. O que nos resta é a esperança, de que a justiça será feita por todas as pessoas que de alguma forma sofreram abusos durante a ditadura militar brasileira. 


Autoras: Luana Torres e Micaela Bizarria




REFERÊNCIAS:



WESTIN, Ricardo. Há 40 anos, Lei da anistia criou caminho para o fim da ditadura. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/ha-40-anos-lei-de-anistia-preparou-caminho-para-fim-da-ditadura. Acesso em 22 de novembro de 2020. 


ILHEU, Taís. Afinal, quem foi Carlos Marighella?. Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/afinal-quem-foi-carlos-marighella/. Acesso em 22 de novembro de 2020.


TV Brasil. Ditadura: Uma história em revisão. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zZ17CMkdCFA. Acesso em: 23 de novembro de 2020. 


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