Estaria a democracia em declínio?

novembro 16, 2020


O golpe sofrido pelo governo de João Goulart foi minuciosamente planejado pela elite, grupos conservadores e militares. Jango, como era conhecido, incomodou até o governo dos Estados Unidos, que tinha vista grossa contra partidos de esquerda. Alguns planos e reforma de base, para diminuir a desigualdade no Brasil, sugeridas por Goulart, faziam com que a elite brasileira sentisse seu poder ameaçado. Algumas das reformas de base eram:


  • Reformas agrárias: que foram as mais polêmicas, democratizar terras com mais de 500 hectares improdutivos;

  • Reformas eleitorais, que davam direito de voto aos analfabetos e militares de baixa patente;

  • Reformas bancárias, aumentavam o crédito dos produtores;

  • Reformas educacionais, ofertava educação aos analfabetos e valorizava o trabalho dos professores.


Jango foi fortemente pressionado e acusado de comunismo por grupos conservadores brasileiros. Esses grupos reagiram através de protestos e pediram por intervenção militar na intenção de “salvar o brasil do comunismo”. Em 31 de março de 1964, em decorrência do AI1, foi instaurado um golpe militar. 


Em 1 de abril, por segurança pessoal, João Goulart escondeu-se em Brasília, em seguida no Rio e depois em Porto Alegre, mas terminou exilado no Uruguai e morto em 1976. Até os dias atuais, não se sabe da morte do ex presidente, mas sua família acredita em assassinato. As prováveis causas da morte são envenenamento ou infarto, já que Jango era cardíaco. Apesar de nenhuma substância ter sido encontrada em seu corpo, é importante lembrar que existem substâncias que não são detectáveis em exames. Infelizmente, Goulart foi apenas mais uma vítima do poder autoritário que dominava o Brasil durante aquele período. 


O Brasil herdou do regime militar uma série de sequelas, opressão, violência e inseguranças. No universo artístico, a liberdade de expressão entrou em colapso, os artistas que fizessem oposição ao regime era covardemente perseguidos ou até mortos, como aconteceu com Antonio Benetazzo. Alguns artistas preferiam sair do país, para se expressarem livremente, como é o caso de Chico Buarque. Outros lançavam músicas, em oposição ao governo, com mensagens ocultas. Clique aqui para acessar uma lista de músicas, compostas durante o período, que possuem mensagens ocultas.


Diversos opositores do governo tiveram seus direitos humanos violados, muitos passaram anos presos e sofrendo tortura, muitos foram mortos e outros estão desaparecidos até hoje. Um claro exemplo é a ex presidenta Dilma Roussef, que foi presa e torturada, com choques, palmatória e pau de arara, por 3 anos.


Os apoiadores do regime militar costumam dizer que nenhuma das mortes foi ocasionada porque estavam brincando ou soltando pipa, e sim porque portavam armas. Hoje, nós temos fotos, vídeos, documentos, relatos e investigações que comprovam que até crianças foram covardemente torturadas. O livro infância roubada reúne relatos de crianças que perderam sua infância após sofrerem diversos abusos durante a ditadura.


Não somente crianças, também houveram torturas e repressões contra mulheres e grávidas. A mulher era vista como “sexo inferior” pelos torturadores. Existiram diversos tipos de abusos sexuais e torturas específicas para mulheres. Muitas grávidas foram violentadas e perderam seus filhos, outras foram presas e tiveram gestações e partos precários, como é o caso da historiadora Jessie Jane Vieira de Souza. 


Até os dias atuais os torturadores não foram punidos pelas suas ações hostis, durante o regime militar. O exército brasileiro nunca se pronunciou, nem mesmo para um pedido oficial de desculpas para as vítimas de opressão. Em 2014, Celso Amorim, o ex ministro da Defesa, formalmente, assumiu que o Estado Brasileiro tem culpa das “violações de direitos humanos ocorridas no passado”, mas também cita que os militares não assumem que houve tortura durante o período de regime militar.


Até os dias atuais, diversos grupos conservadores ainda apoiam uma possível ditadura novamente. Inclusive, o próprio presidente, Jair Messias Bolsonaro, durante o impeachment, em 2016, exaltou a ditadura militar e o coronel Ustra, que foi o torturador da ex presidenta Dilma Rousseff.  



O presidente também discursou perto à cartazes e faixas que pediam intervenção militar, o fechamento do STF e o retorno do AI-5- ato que intensificou a ditadura militar o Brasil.




twitter do ministro Gilmar Mendes



Em março, o presidente determinou que o ministério da defesa fizesse “comemorações devidas” em unidades militares no dia 31 de março, para comemorar o aniversário da ditadura, ignorando a recomendação da Comissão Nacional da Verdade de que a ditadura militar não deve ser comemorada. 


A Comissão Nacional da Verdade, foi um marco extremamente importante para a história do Brasil, o evento deu voz à pessoas que foram vítimas de opressão, durante o período do regime militar, mas foi incompleta, pois não puniu os culpados. Hoje, no Brasil, estamos vivenciando um governo conservador, em que metade dos ministérios são ocupados por militares, onde o  presidente e sua família possuem um discurso a favor do governo militar Estaria a democracia em declínio? Vamos manter boas vibrações, para que no futuro não precisemos de uma segunda Comissão Nacional da Verdade.  


Recomendamos assistir a parte dois do documentário " Em busca da verdade"




Autoras: Micaela Bizarria e Luana Torres



REFERÊNCIAS

Quatro anos depois, Brasil ignora maioria das recomendações da Comissão da Verdade. Disponível em: https://www.aosfatos.org/noticias/quatro-anos-depois-brasil-ignora-maioria-das-recomendacoes-da-comissao-da-verdade/. Acesso em 16 de novembro de 2020.


4 pontos do discurso de Bolsonaro em ato a favor de ‘intervenção militar’ .Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52353804. Acesso em 16 de novembro de 2020.


Livro reúne histórias de crianças presas, torturadas ou exiladas durante a ditadura no Brasil. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/livros/livro-reune-historias-de-criancas-presas-torturadas-ou-exiladas-durante-ditadura-no-brasil-14496104. Acesso em 16 de novembro de 2020.


Golpe militar em 1964: Elites e Militares derrubaram o governo. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/golpe-militar-de-1964-1-elites-e-militares-derrubaram-o-governo-de-jango.htm. Acesso em 16 de novembro de 2020.


Jornais mostram detalhes de tortura sofrida por Dilma em Minas. Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2012/06/jornais-mostram-detalhes-de-tortura-sofrida-por-dilma-em-minas.html. Acesso em 16 de novembro de 2020.



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